03/06/2023

Administração - Passeio de Fim de ano lectivo: E N 2

 



Do habitual local de encontro para os nossos passeios e visitas, pelas 7 da manhã e sem atrasos, partimos para a aventura de percorrer a Estrada Nacional 2, que as forças do markting já baptizaram de "A Mítica EN 2".
A primeira etapa foi de Setúbal a Guimarães, com as respectivas paragens técnicas (as smiling stops do saudoso professor Alves). Guimarães, não estando incluída no itinerário da EN 2, foi um bom aquecimento para o que se seguiria. Ainda antes da chegada a guia Maria João distribuiu passaportes por todos para serem carimbados nos estabelecimentos e outras organizações aderentes, nos locais de passagem. O controlo dos carimbos foi actividade a que a guia deu especial atenção.
A cidade-berço foi o local do almoço, copioso e bem regado, que o Restaurante Café Oriental quer os clientes satisfeitos e saciados, o que parece ter acontecido, a avaliar pelos comentários produzidos.
Para ajudar a digestão uma volta pelo largo da Oliveira e outros locais do centro histórico.
A já célebre frase "Aqui nasceu Portugal", escrita em grandes letras no que resta da antiga muralha, estava encoberta por um grande tapume de obras, não sendo possível observá-la.




















Depois seguimos para Chaves, o ponto de partida oficial da EN 2 para o percurso de 738 km entre esta cidade e Faro, no Algarve.
Chegados a Chaves, um chuvisco aborrecido e persistente, não deixou que obtivéssemos o pleno usufruto do que a cidade têm para dar. Atravessada a ponte romana, ou ponte de Trajano, seguiu-se a inevitável sessão de fotos junto ao marco Zero. Passamos de corrida pelas termas romanas já encerradas àquela hora, subimos a Rua Direita em direcção ao centro histórico, com passagem pelo edifício da câmara em frente do qual se encontra a estátua do 1º Duque de Bragança, subida até ao castelo e a inevitável visita à pastelaria Maria para comprar aí o afamado pastel de Chaves, que é um folhado com recheio de carne. A prometida prova da água termal, na estância termal, teve que ser feita, pelos poucos que o fizeram, numa bica de acesso público, dado o buvette estar fechado.
Terminada a visita seguimos para o alojamento no Hotel do Forte de S. Francisco.
O jantar neste hotel foi um festival de entradas que dispensava bem o prato principal.





Tomado um bom pequeno-almoço, ao qual não faltaram os tais pastéis de Chaves, retomámos a marcha, passando pelas aristocráticas termas de Vidago, onde o acesso é muito restricto, Vila Pouca de Aguiar e paragem em Vila Real.
Seguiu-se uma curta visita ao centro da cidade com um relance pela casa onde, diz a lenda, nasceu o navegador Diogo Cão, entrada na Sé de Vila Real, cujo Grande Órgão Sinfónico de 2.000 tubos alguns de nós tiveram a oportunidade de ouvir em anterior visita a esta cidade, tocado pelo organista polaco Przemyslaw Kapitula. Depois, paragem inevitável numa pastelaria (não a conhecida pastelaria Lapão), para provar as “cristas” e os “covilhetes”. Tempo ainda para ouvir a história dos rapazes que nos dias 2 e 3 Fevereiro oferecem às senhoras um doce, as “ganchas”, em retribuição da oferta do “pito” que elas terão feito anteriormente em 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia.
















Deixada Vila real entrámos na região do Douro com as suas belíssimas e imensas paisagens de encostas “riscadas” pelos bardos das vinhas, quer em socalcos tradicionais, que já não se fazem mais, quer em patamares cujos taludes substituem os muros de pedra. Onde o declive do terreno permite surgem as vinhas “ao alto” com os bardos de videiras descendo pelas encostas. A paisagem é de perder a vista e a respiração. O Douro resplandece no verde intenso as suas encostas “penteadas” de vinhas.



















A hora do almoço aproxima-se, o restaurante panorâmico Varanda da Régua está preparado para nos servir a tradicional vitela assada, a chicha para os locais, perante uma bela paisagem de que em breve nos despediremos.














De novo na estrada em direcção a Lamego com paragem no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios. Recebe-nos a icónica e  milenar oliveira completamente conquistada pela hera.





A paisagem vai mudando, as vinhas dão lugar ao arvoredo: pinheiros e eucaliptos em luta com as terríveis acácias, infestante que está inundando implacavelmente o País. A chegada a Viseu fez-se já no final do dia com a chuva que não nos largava. Não foi possível fazer outra coisa senão procurar o abrigo do Hotel Grão Vasco. Na televisão viram-se os últimos minutos do jogo de futebol em que o Benfica se sagrou campeão nacional.
Alvorada a horas razoáveis e mais uma etapa pela frente.
À passagem por Tondela deparámos com uma festa de bombeiros. Exibiam-se vetustos veículos entre os quais uma ambulância de 1952.












Paragem em Penacova para umas fotos de recordação.


Segue-se Vila Nova de Poiares. Já cheira a chanfana que será servida no restaurante D. Elvira. Estava boa a cabra cozinhada em vinho tinto, para quem gosta, claro.













Segue-se Góis e a sua ponte sobre o rio Ceira, testemunha de histórico combate contra os invasores franceses.












E continuamos passando por Pedrogão Grande, por uma terreola cujo nome provocou grande galhofa e muitas fotos e pela barragem do Cabril.



















E chegámos ao Hotel da Montanha, em Pedrogão Pequeno, do qual se teria uma vista fabulosa não fosse o tempo enfarruscado.














O centro geodésico de Portugal é já ali, no Picoto da Melriça, em Vila de Rei, a seguir à Sertã, terra de maranhos que não provámos.



















Abrantes ficou já para trás sem que se tivesse calcorreado o caminho até ao castelo para ver o Tejo escorrendo, lá em baixo. Mais uma vez a chuva.
O Alentejo está à vista e de novo a paisagem muda. Às serranias sucedem-se os plainos com os sobreiros que já nos vinham fazendo companhia. Ponte de Sor é a próxima paragem. No Centro de Artes e Cultura desta localidade visitámos a antiga fábrica de descasque de arroz (a cultura do arroz foi em tempos a grande actividade da terra) e o pavilhão de exposições onde se encontra o maior mosaico de rolhas do mundo, com seus mais de 150 metros quadrados, representando a figura de José Saramago.
















E continuamos. O espelho de água da barragem de Montargil acompanha-nos por largos minutos pela nossa esquerda. Fica para trás e seguimos para almoçar numa terreola que a EN 2 colocou no mapa: Ciborro, quilómetro 500 da nossa jornada. Plantado à beira da estrada lá está o Café Restaurante A Júlia, cujo dono nos confessou que antes da promoção da EN 2, não passava ninguém por aquela estrada. Já se contaram num só dia mais de 3.000 motaros, disse o homem.
Bem, vamos ao que interessa: depois das entradas, não vieram as almejadas sopas de cação mas sim uma sopa de legumes, mas a carne de porco à alentejana estava bem temperada e pouco gordurosa. As ameijoas, coitadas, deram o que tinham para dar.













E a jornada continuou com paragem nas Alcáçovas, terra de chocalhos cujo fabrico foi elevado a Património Imaterial da Humanidade. Tem um museu lá na terra, mas fomos vê-los fabricar na própria oficina Chocalhos Pardalinho.



























Ondulando suavemente o Alentejo espraia-se perante os nossos olhos. O Sol começou a brilhar à passagem pelo Torrão e Ferreira do Alentejo mostrando aquele branco inigualável do casario. Ao cair do dia estávamos na vila mineira de Aljustrel que nos acolheu no Hotel Villa Aljustrel. Jantar no restaurante do hotel que dá pelo apelativo nome de Fio d'Azeite, recordando, talvez, tempos idos em que o prato era temperado com um fiozinho daquele óleo.
Depois das costumeiras entradas e da sopa chegou, brilhante, uma lagarada de bacalhau. Tinha tudo e azeite que não era um fio. Abriu-se uma excepção na etiqueta de boas maneiras e repetiu-se. Da variada sobremesa fazia parte a sericaia boa mesmo com os frutos vermelhos em calda em vez das ameixas de Elvas.



      


A serra algarvia, como chamam à Serra do Caldeirão está à vista. Antes dela Castro Verde. Visitou-se  o moinho de vento (movido por motor eléctrico) onde se podia adquirir farinha de trigo a granel. Seguiu-se a visita  ao Museu da Lucerna com guia local.  













Depois Almodôvar de novo por montes e vales, curvas e mais curvas até S. Brás de Alportel para o merecido repasto, na Adega Nunes. Eram já boas horas de almoço quando nos sentámos à mesa bem guarnecida de entradas. Saltaram os olhos para os biqueirões marinados, um verdadeiro amuse bouche, para quem goste do sabor forte desta iguaria. Depois, o promovido prato do Algarve pobre: xarém, este de berbigão. Um pouco mais de sabor marinho não fazia nada mal. Na terra continuam a chamar-lhe papas de milho. Seguiu-se outro prato da gastronomia local: sopas de galinha com grão, um guisado de galinha com grão-de-bico, leve e caldoso para abeberar as fatias de pão dispostas no fundo da terrina.















E, finalmente, o fim da linha. Faro quilómetro 738, no passaporte refere 739. Deve haver alguma explicação.



 









Terminou o passeio com as palavras de despedida. Regressemos a casa.





Ah! Só mais uma coisa: a cadeira vaga que aparece nas fotografias era a do autor delas...