Na esteira de Miguel
Torga
Quinta-feira,
10 de Outubro de 2019, partida às 7,50 h do local do costume, a caminho de
Trás-os-Montes para visitar os locais mais marcantes da vida de Miguel Torga.
Cinco horas
de autocarro com uma paragem pelo meio é o que nos esperava até Vila Real.
Neste percurso, digno de nota e novidade para alguns (talvez a maioria) foi a
passagem pelo badalado túnel do Marão, com os seus quase seis quilómetros, perto
da capital trasmontana, onde nos esperavam já para o almoço, em restaurante de
graníticas e compactas paredes.
Depois do
almoço, conduzidos por uma entusiasmada guia viu-se exteriormente a degradada
igreja de S. Dinis. Ao lado a capela de S. Brás santo protector das doenças da
garganta, onde ouvimos a história dos rapazes que nos dias 2 e 3 Fevereiro
oferecem às senhoras um doce, as “ganchas”, em retribuição da oferta do “pito”
que elas terão feito anteriormente em 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia.
Aproveitou a jovem para contar também a história da capelinha próxima de Santo
António dos Esquecidos.
Seguiu-se
uma visita à cidade passando pela Casa dos Brocas, solar da família de Camilo
Castelo Branco, pela casa onde nasceu o Comandante Carvalho Araújo e a casa
onde, diz a lenda, nasceu o navegador Diogo Cão. Depois paragem inevitável na pastelaria
Lapão, especializada em “cristas” e “covilhetes”. Tempo ainda para visitar a Sé
de Vila Real, cujo Grande Órgão Sinfónico
de 2.000 tubos tivemos oportunidade de ouvir em anterior visita tocado pelo organista polaco Przemyslaw
Kapitula.
O Hotel
Miracorgo aguardava por nós para os merecidos descanso e jantar.
Sexta-feira
dia 11, alvorada às 7,00 da manhã, para sair sem atraso para Sernancelhe e aí visitar
o Santuário de Nossa Senhora da Lapa, passar por entre os penedos por detrás do
altar, onde os “pecadores” não conseguem passar e dar uma olhadela no grande
sardão, crocodilo ou o que quer que seja, que já esteve dependurado e agora jaz
em vitrine, adequadamente iluminada. Ao lado da igreja o edifício do seminário
que pouco interesse despertou.
Terminada a
visita, partida em direcção ao Pinhão. Pelo caminho já com o Douro à vista a
paisagem do Douro Vinhateiro. É muito bela a paisagem pese embora a época que é
a de transição entre o Douro verdejante e o Douro flamejante do fim do Outono,
mas ainda assim um encanto.
Almoço no
Pinhão em restaurante acanhadote com serviço mais ou menos atarantado no início,
mas que acabou por se compor. Afinal a “chefe da sala” era escritora, autora de
um livro, que contava uma história de vacas, estranha e mal explicada. Talvez porque a senhora escreve, o
restaurante dê pelo nome de “Writer´s Place”, embora a figura em questão seja
de origem francesa.
Terminado o
almoço rumo a S. Martinho da Anta para visita guiada ao Espaço Torga, concebido
pelo arquitecto Souto Moura. Trata-se de um edifício térreo que abriga uma
exposição sobre Torga organizada em quatro espaços: percurso de vida; o chão
com a ligação ao território; fotos dos locais mais emblemáticos; o verbo,
livros, edições, textos manuscritos. À visita seguiu-se uma palestra pelo guia
na Capela da Azinheira e nesse mesmo espaço uma intervenção da professora
Manuela Palma Rodrigues. Descendo ao povoado passámos pela casa onde o escritor
nasceu, espaço que está sendo preparado para visitas. Continuando rua abaixo
paragem no largo do Eiro onde se encontra uma escultura da cabeça de Torga e por
detrás o que resta do seu negrilho, a árvore de que tanto gostava. Oportunidade
para mais esclarecimentos da nossa professora de Literatura. Regresso, jantar
no hotel e caminha que a “night” na terra é fraquinha, pelo menos para quem não
está “por dentro”.
É Sábado.
Partimos bem cedo pela manhã para S. Leonardo de Galafura. A paisagem no início
do percurso é dominada por pinheiros, mas à medida que nos aproximamos do
destino vão surgindo os vinhedos. Chegámos ao miradouro. Lá do alto a paisagem
é de perder a vista e a respiração. O Douro resplandece com suas encostas “penteadas”
de vinhas, ainda com algum verde, mas anunciando já a orgia de cores que o
Outono lhe trará.
A capela do
miradouro, de Santa Bárbara e S. Leonardo, ostenta na parede Sul, em azulejo, o
poema de Torga que compara aquele local a um navio de penedos navegando em mar
de mosto. Bom mote para mais uma interessante intervenção da nossa professora.
Com o olhar
encantado seguimos para Lamego, paragem no santuário de Nossa Senhora dos
Remédios e visita relâmpago à cidade em cujo seminário Torga ingressou. Sol de
pouca dura, a sua estadia naquele local durou um ano.
Regresso à
Régua. A paisagem do outro lado do Douro é igualmente bela e imensa vista do
alto do miradouro sobranceiro a Tabuaço. Sempre as encostas “riscadas” pelos
bardos das vinhas, quer em socalcos tradicionais, que já não se fazem mais,
quer em patamares cujos taludes substituem os muros de pedra. Onde o declive do
terreno permite surgem as vinhas “ao alto” com os bardos de videiras descendo
pelas encostas.
Chegados à
Régua o almoço foi uma agradável surpresa. O restaurante instalado numa reconversão
de um armazém ferroviário, espaço desafogado e acolhedor, com o madeirame à
vista. E a refeição, meus amigos, a melhor do passeio. Podemos sem favor
classifica-la de “gourmet”. Requinte nas entradas, excelente o prato principal
e muito boa a sobremesa. Parabéns ao chef Jorge Coimbra.
Enquanto se
almoçava pôde ver-se o abastecimento de água à caldeira da locomotiva que faria
a tracção das vetustas carruagens que nos levarão até ao Tua.
Viagem
histórica, com folclore a bordo, distribuição de rebuçados típicos da Régua,
brinde com vinho do Porto e, para recriação completa da situação, fuligem da
chaminé a invadir as carruagens. A paisagem, essa, sempre bela.
No último
dia a hora da alvorada foi mais moderada. Malas a bordo e partida em direcção a
Coimbra para uma visita à Casa Museu Miguel Torga. Visita guiada por uma
senhora, certamente fã de Torga pelo entusiasmo que demonstrou durante todo o
tempo que esteve connosco, não deixando de referir a simpatia do escritor pelas
coisas de Espanha, traduzida, desde logo, pelo pseudónimo adoptado de Miguel
(de Cervantes e Unamuno) e pelos objectos decorativos das salas, nomeadamente
louças de Talavera la Reina e quadros de pintores espanhóis. O entusiasmo da
senhora levou-a a contar a história de um jantar de Torga com Manuel Alegre,
que teve lugar na sala de jantar onde nos encontrávamos. Jantaram narcejas e
galinhola (upa, upa) que o próprio Torga havia caçado, acompanhadas de Barca
Velha, Santo Deus!
Por último
e sendo nós de Setúbal, a senhora guia não resistiu em contar que Miguel Torga
fez o seu autorretrato que deitou ao mar, no Portinho da Arrábida.
Finda a
visita passagem pelo memorial ao poeta nas margens do Mondego e rumo à Bairrada
para almoço na Anadia. Aqui almoçou-se o que é uso e costume comer nesta
região, leitão, pois claro. Digna de nota muito alta a sobremesa. Pão de ló,
daquele que se como à colherada, cremoso, derramando sapidez capaz de levar aos
píncaros do prazer os palatos mais insensíveis. Divinal.
E acabada a
festa regresso a casa em paz e sossego.
Vila Real
A casa onde nasceu Diogo Cão, diz a lenda
A casa de Carvalho Araújo
A Casa dos Brocas, onde nasceu o pai de Camilo Castelo Branco
Sernancelhe
O Douro
S. Martinho da Anta
S. Leonardo de Galafura
O comboio histórico
Coimbra
A casa museu Miguel Torga,
OS ALMOÇOS
Vila Real
Pinhão
Régua
Anadia
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