(O texto que se segue é de inteira responsabilidade do autor)
Memórias de um dia de Outono
Era uma manhã calma e solarenga daquele dia de Outono que, sem dúvida nenhuma, é a minha estação preferida, pelas suas cores em tons tão variados, pelo cheiro das folhas caídas que abafam ruídos, pela sensação de vivermos mais para nós, mais em recolhimento, ao contrário do buliçoso e quente verão.
Acabara de sair de um salão de estética, onde tinha feito todos aqueles tratamentos que, normalmente, as mulheres tanto gostam, e que as faz sentir melhores consigo próprias
Saí feliz e bem-disposta como se o mundo me pertencesse, não supondo que algo estaria guardado para mim. De repente, um estrondo, uma pancada e, ali, naquele chão preto e duro, o meu corpo estendido e ensanguentado afastou, rapidamente, o momento áureo com que atravessei a passadeira naquele dia 4 de Outubro.
Logo, naquele instante, desassossegada e inquieta, acreditei que ainda não era a altura de partir! Se ainda sonhava tanto, como poderia terminar ali os meus sonhos?
Sem conseguir mexer-me com dores, ia respondendo corretamente às perguntas que um médico que se encontrava no local me fazia; e eu dizia-lhe que já me tinha feito essas perguntas, porque as repetia? Santa ignorância sobre os atos médicos., porque era isso que me mantinha acordada. Estou-lhe eternamente grata por me manter sempre a falar e não deixar que adormecesse, o que poderia ser fatal. Foi esse médico, que ligou ao meu filho e o chamou.
Passados poucos minutos, meu filho chegou junto a mim e, ao ver os seus olhos rasos de água tal como estavam os meus, numa união perfeita, que me sacudiu os sentidos de forma inequívoca. De repente, pensei; não! Não pode ser, não posso deixar-te, nem à tua irmã, de forma tão abruta nem tão pouco vê-los sofrer. Irei lutar com todas as forças para que vocês não sofram, para já, a perda deste amor maternal.
Depois de dias de fortes temporais por hospitais, toda engessada e massacrada, comecei a renascer das cinzas, tal como Fênix o fez
Sarei as feridas, endireitei ( mais ou menos) os ossos quebrados e sorri à vida num desafio sem limites para que ela me visse intacta (?), devolvida aos que me amam e aos que gostam de mim. Claro que, um pouco mais dorida fisicamente, porque a alma, essa, mantinha-se otimista e liberta para sonhar de novo.
Não são muitas as vezes que nos comportamos assim mas, existe algo que não consigo explicar o que é. Talvez porque ao longo da vida não desperdicei tempo a combater “Monstros” e, ao longo dos anos, acumulei toda a energia que me ajudou a sobreviver.
Aprendi que há situações em que o silêncio que vivemos em recolhimento, é fundamental para aprendermos a encarar as adversidades que nos surgem e que é, na solidão, que conhecemos a nossa grande força.
Abraços
M. Carmo Branco
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