No passado dia 20 de Janeiro teve lugar a I palestra da série III das Conferências do Sapal.
Abriu a sessão
o Senhor Presidente do C A da Uniseti, Doutor Arlindo Mota, que fez a ligação
do nome de “Palestras do Sapal” à antiga designação de Praça do Sapal, hoje
Praça de Bocage, daí que o local próprio para as conferências seja o Salão Nobre da CMS, cujo edifício
lhe é fronteiro.
Depois, o Senhor
Presidente da Câmara Municipal deu as boas-vindas aos presentes no Salão Nobre
dos Paços do Concelho, que nomeu de Casa da Democracia, que é a casa de todos
nós, disse. Referiu os tempos difíceis que vivemos parecendo que a experiência da II
GG, convertida em vacina social, se tornou ineficaz. E, para que falasse do
Problema da Paz e Guerra no Século XXI, deu a palavra ao palestrante, Doutor
Viriato Soromenho-Marques.
Após os
agradecimentos, o palestrante começaria por dizer que a guerra é um objecto
científico, de tal modo que dá origem a doutoramentos e tão crítico que pode
levar à convocação de toda a actividade humana, desde a indústria à
agricultura.
Desde a
formação dos Estados-nação até ao final II GG
havia uma determinada maneira de pensar a guerra, mas a mudança
tecnológica fez surgir a guerra nuclear que mudou a gramática da guerra, que
vinha do tempo do teórico desta actividade, o general prussiano Carl von Clausewich.
As duas bombas atómicas de cisão nuclear lançadas sobre cidades japonesas
durante a II GG causaram de imediato 200.000 mortos e a curto prazo mais de
600.000 vítimas dos efeitos das explosões. Tal enormidade levou à atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2024 ao colectivo dos sobreviventes das duas explosões. A guerra nuclear
serviu de pretexto ao palestrante para tecer alguns comentários a certas
posições dos Secretários Gerais da Nato.
Num breve relato de uma viagem que fez à Europa, mencionou a indignação que
notou entre os alemães quanto à possibilidade de uma guerra nuclear, ainda que
limitada, nos países da Europa, face à proliferação de misseis com capacidade
de transporte de ogivas nucleares. Como manifestação deste receio citou o
título da canção na altura em voga nas discotecas: “Visita a Europa enquanto
podes”, é que iniciada a guerra mesmo que limitada, torna-se imparável.
O risco de episódios fortuitos desencadearem uma guerra nuclear é bem
real e o mundo esteve à beira disso em 1983 na sequência de exercícios da Nato.
Voltando às teorias de Clausewich, referiu os quatro princípios que este
enunciou:
A guerra é sempre entre estados e tem a sua gramática dentro da sua
lógica, fazendo sentido como instrumento da política, ou seja, a guerra é a
continuação da política por outros meios.
Porém, há outra
corrente para a qual são os meios militares que decidem sobre a guerra e não os
políticos, de que é exemplo a Alemanha Nazi.
O segundo
princípio é a decisão pelas armas e o significado das batalhas decisivas, dando
como exemplo a Batalha de Aljubarrota.
O terceiro
princípio é que durante a guerra há diálogo entre os beligerantes, através dos
embaixadores.
No século XX a
lógica é do extermínio, o adversário tem que ser aniquilado.
Citou que a guerra é um fenómeno histórico que tem evoluído. O número de
mercenários nas guerras diminuiu sendo substituídos por cidadãos em armas.
Referindo-se à
guerra na Ucrânia considerou-a semelhante à II GG em que o ataque às
trincheiras com a aviação foi substituído pelo ataque com drones. A II GG foi
uma continuação da I GG numa articulação mais dinâmica que teve a ver com com o
papel das ideias e com a novidade técnica que foi a “guerra relâmpago”.
Outra questão
focada pelo orador foi o controlo dos armamentos. Os acordos para o
desarmamento decorrentes da Guerra Fria estão suspensos. Há armas para todas as
situações: balísticos, intercontinentais, táticos, estratégicos, etc. Uma
guerra nuclear entre a Rússia e os EUA atendendo ao potencial nuclear de ambas,
provocaria de imediato 350 milhões de mortos e a curto prazo mais de 5.000
milhões, não só pelo efeito directo das explosões, mas também pelas drásticas alterações
climáticas provocadas pela barreira de poeiras que provocariam na atmosfera,
semelhantes aos efeitos do vulcanismo de há milhões de anos.
Abordando a
temática das mudanças operadas no teatro da guerra, fez notar que a noção de
frente praticamente não existe; o essencial está em todo o lado, os mísseis
chegam a qualquer lugar. Na guerra convencional tem-se presente a noção de
espaço-tempo: há que produzir armas e transportá-las para onde forem
necessárias e tudo isto leva tempo. A guerra nuclear é instantânea, o tempo
mede-se por minutos.
Na guerra
nuclear não há a expectativa de um lado sair vencedor porque os países que a
podem começar têm um poder enorme e uma guerra destas levada ao extremo
conduzirá ao extermínio da Humanidade. Então, acima de tudo, as potencias
nucleares devem evitar os confrontos que levem o adversário a reagir com mais
guerra nuclear. À corrida absurda aos armamentos deveria opor-se uma
conferência sobre a sua autocontenção, pois, numa situação de guerra como
solução extrema, o derrotado vai continuar a resistir ou a guerra terá que
conduzir ao extermínio do inimigo.
Abordando a
questão ambiental manifestou a sua preocupação com o aquecimento global sem
controlo que tem que levar forçosamente a uma organização para uma cooperação
compulsória.
Também a
questão da IA foi abordada. Nas redes sociais há pessoas a escrever coisas como
se estivessem a tratar com o amigo do lado, esquecendo-se que estão a ser lidos
por milhões de pessoas. A IA não é um instrumento, é um sujeito artificial
dotado de capacidade de deliberação. Os sistemas de IA estão a ser desenhados,
de acordo com os objectivos, nomeadamente a nível militar, levando ao
aparecimento dos robot-arma com capacidade de decisão. Esta situação tem que
ser regulada e a solução encontrada em conjunto com a cooperação internacional
alargada à ONU.
Terminada a exposição, o
palestrante colocou-se à disposição dos presentes para responder às questões
que lhe fossem colocadas, tendo surgido questões relacionadas com a guerra na
Ucrânia, com a existência de armas nucleares e a possibilidade da sua
utilização.
No final da sessão ainda houve tempo para uma pequena, viva e apropriada intervenção do Senhor presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião
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