27/01/2025

Administração - Conferências do Sapal III

 





No passado dia 20 de Janeiro teve lugar a I palestra da série III das Conferências do Sapal.

Abriu a sessão o Senhor Presidente do C A da Uniseti, Doutor Arlindo Mota, que fez a ligação do nome de “Palestras do Sapal” à antiga designação de Praça do Sapal, hoje Praça de Bocage, daí que o local próprio para as conferências seja o Salão Nobre da CMS, cujo edifício lhe é fronteiro.

Depois, o Senhor Presidente da Câmara Municipal deu as boas-vindas aos presentes no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que nomeu de Casa da Democracia, que é a casa de todos nós, disse. Referiu os tempos difíceis que vivemos parecendo que a experiência da II GG, convertida em vacina social, se tornou ineficaz. E, para que falasse do Problema da Paz e Guerra no Século XXI, deu a palavra ao palestrante, Doutor Viriato Soromenho-Marques.

Após os agradecimentos, o palestrante começaria por dizer que a guerra é um objecto científico, de tal modo que dá origem a doutoramentos e tão crítico que pode levar à convocação de toda a actividade humana, desde a indústria à agricultura.

Desde a formação dos Estados-nação até ao final II GG  havia uma determinada maneira de pensar a guerra, mas a mudança tecnológica fez surgir a guerra nuclear que mudou a gramática da guerra, que vinha do tempo do teórico desta actividade, o general prussiano Carl von Clausewich. As duas bombas atómicas de cisão nuclear lançadas sobre cidades japonesas durante a II GG causaram de imediato 200.000 mortos e a curto prazo mais de 600.000 vítimas dos efeitos das explosões. Tal enormidade levou à atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2024 ao colectivo dos sobreviventes das duas explosões. A guerra nuclear serviu de pretexto ao palestrante para tecer alguns comentários a certas posições dos Secretários Gerais da Nato.

Num breve relato de uma viagem que fez à Europa, mencionou a indignação que notou entre os alemães quanto à possibilidade de uma guerra nuclear, ainda que limitada, nos países da Europa, face à proliferação de misseis com capacidade de transporte de ogivas nucleares. Como manifestação deste receio citou o título da canção na altura em voga nas discotecas: “Visita a Europa enquanto podes”, é que iniciada a guerra mesmo que limitada, torna-se imparável.

O risco de episódios fortuitos desencadearem uma guerra nuclear é bem real e o mundo esteve à beira disso em 1983 na sequência de exercícios da Nato.

Voltando às teorias de Clausewich, referiu os quatro princípios que este enunciou:

A guerra é sempre entre estados e tem a sua gramática dentro da sua lógica, fazendo sentido como instrumento da política, ou seja, a guerra é a continuação da política por outros meios.

Porém, há outra corrente para a qual são os meios militares que decidem sobre a guerra e não os políticos, de que é exemplo a Alemanha Nazi.

O segundo princípio é a decisão pelas armas e o significado das batalhas decisivas, dando como exemplo a Batalha de Aljubarrota.

O terceiro princípio é que durante a guerra há diálogo entre os beligerantes, através dos embaixadores.

No século XX a lógica é do extermínio, o adversário tem que ser aniquilado.

Citou que a guerra é um fenómeno histórico que tem evoluído. O número de mercenários nas guerras diminuiu sendo substituídos por cidadãos em armas.

Referindo-se à guerra na Ucrânia considerou-a semelhante à II GG em que o ataque às trincheiras com a aviação foi substituído pelo ataque com drones. A II GG foi uma continuação da I GG numa articulação mais dinâmica que teve a ver com com o papel das ideias e com a novidade técnica que foi a “guerra relâmpago”.

Outra questão focada pelo orador foi o controlo dos armamentos. Os acordos para o desarmamento decorrentes da Guerra Fria estão suspensos. Há armas para todas as situações: balísticos, intercontinentais, táticos, estratégicos, etc. Uma guerra nuclear entre a Rússia e os EUA atendendo ao potencial nuclear de ambas, provocaria de imediato 350 milhões de mortos e a curto prazo mais de 5.000 milhões, não só pelo efeito directo das explosões, mas também pelas drásticas alterações climáticas provocadas pela barreira de poeiras que provocariam na atmosfera, semelhantes aos efeitos do vulcanismo de há milhões de anos.

Abordando a temática das mudanças operadas no teatro da guerra, fez notar que a noção de frente praticamente não existe; o essencial está em todo o lado, os mísseis chegam a qualquer lugar. Na guerra convencional tem-se presente a noção de espaço-tempo: há que produzir armas e transportá-las para onde forem necessárias e tudo isto leva tempo. A guerra nuclear é instantânea, o tempo mede-se por minutos.

Na guerra nuclear não há a expectativa de um lado sair vencedor porque os países que a podem começar têm um poder enorme e uma guerra destas levada ao extremo conduzirá ao extermínio da Humanidade. Então, acima de tudo, as potencias nucleares devem evitar os confrontos que levem o adversário a reagir com mais guerra nuclear. À corrida absurda aos armamentos deveria opor-se uma conferência sobre a sua autocontenção, pois, numa situação de guerra como solução extrema, o derrotado vai continuar a resistir ou a guerra terá que conduzir ao extermínio do inimigo.

Abordando a questão ambiental manifestou a sua preocupação com o aquecimento global sem controlo que tem que levar forçosamente a uma organização para uma cooperação compulsória.

Também a questão da IA foi abordada. Nas redes sociais há pessoas a escrever coisas como se estivessem a tratar com o amigo do lado, esquecendo-se que estão a ser lidos por milhões de pessoas. A IA não é um instrumento, é um sujeito artificial dotado de capacidade de deliberação. Os sistemas de IA estão a ser desenhados, de acordo com os objectivos, nomeadamente a nível militar, levando ao aparecimento dos robot-arma com capacidade de decisão. Esta situação tem que ser regulada e a solução encontrada em conjunto com a cooperação internacional alargada à ONU.

Terminada a exposição, o palestrante colocou-se à disposição dos presentes para responder às questões que lhe fossem colocadas, tendo surgido questões relacionadas com a guerra na Ucrânia, com a existência de armas nucleares e a possibilidade da sua utilização. 

No final da sessão ainda houve tempo para uma pequena, viva e apropriada intervenção do Senhor presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião








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