Bem cedinho, pouco passava da cinco da manhã do dia vinte e nove de Outubro de dois mil e vinte e dois, partimos
rumo à aventura por terras de Espanha. Trinta e nove companheiros que pela
primeira vez depois da pandemia iriam gozar em conjunto um passeio
além-fronteiras com a razoável duração de quatro dias. Entreabria-se a porta
fechada há mais de dois anos para deixar passar uma réstia de esperança em
melhores dias.
Quase sem se dar por isso já estávamos por Santa Olalla, onde parámos
para almoçar, seriam 13,30 horas locais. Serviço relâmpago no restaurante
“Salamanquilha” e de novo na estrada.
Pelas dezasseis horas já descíamos a Rua da Princesa,
em Madrid, para dar início a uma visita panorâmica com passagem pelos locais
mais emblemáticos da cidade como a ponte de Segóvia, o Palácio Real e seus
jardins, a Praça de Espanha, a estação de Atocha entre outros locais. Seguiu-se
uma paragem de um par de horas para fazer um percurso a pé até à Praça Maior.
Era Sábado, bom tempo, ruas apinhadas de gente, esplanadas cheias, a Praça
Maior abarrotava. Regresso ao autocarro e todos para o hotel para descansar que
a jornada foi longa, ainda que suavizada pela excelente qualidade do autocarro
e pela competência inquestionável do condutor.
A jornada do segundo dia começou com a visita ao Vale
dos Caídos e à imponente basílica
com os seus 262 metros de comprimento totalmente escavada na rocha, a que se
tem acesso por uma monumental porta de bronze com mais de dez metros da
altura. No alto do monte onde a basílica foi escavada, uma cruz de 150 metros
domina a paisagem. Dentro da basílica
nada de fotografias.
O almoço no restaurante Alaska em S. Lourenzo do Escurial, teve lugar ao meio-dia e trinta, mais uma vez cedo, para contrariar os espanhóis que almoçam tarde. Depois do almoço seguiu-se a visita ao complexo de edifícios do Escurial, mandado construir por Filipe I de Portugal, certamente com algum dinheiro lusitano; os espanhóis dizem que o mandante da obra foi Filipe II de Espanha. A visita começou pela biblioteca, muito rica em decoração e recheio, apesar de mais de metade das obras ter sido consumida por um incendio. Seguiu-se a sala dos relicários com milhares de relíquias, grandes e pequenas, para todos os efeitos. O rei, que era muito pio, sempre vestido de negro como mostram as pinturas, tinha o seu palácio residencial distribuído por várias salas na basílica. O quarto onde dormia tinha vistas de um lado para o altar-mor e do outro para os jardins. Do outro lado do altar, em posição simétrica eram os aposentos da rainha. Descemos ao mundo dos mortos: os panteões dos reis e dos infantes. No primeiro separação das tumbas: homens de um lado e mulheres de outro, com raras excepções; no segundo só crianças. Tudo uma beleza tétrica. Mais salas, claustros, pinturas a óleo e a fresco, esculturas. Capelas são mais de quarenta. Tudo feito por bons artistas, que o rei não olhava a despesas.
Libertos da clausura fomos arejar até à estância de
Inverno de Navacerrada, no parque natural da serra de Guadarrama. Era já fim do
dia, o céu negro ameaçava chuva. Estavam nove graus e um ventinho agreste que
convidava à retirada para o hotel em Segóvia.
A alvorada do terceiro dia foi a horas razoáveis. Já na rua deparamos com um miradouro de quatro colunas que deu o nome de “Cuatro Postes” ao hotel onde ficámos. Deste Miradouro tem-se uma vista soberba sobre a cidade de Ávila. Para aí nos dirigimos. Franqueada uma das nove portas da cidade visitamos a catedral, que se integra na própria muralha, o convento de Santa Teresa, passeamos do Mercado Grande ao Mercado Pequeno e, já fora das muralhas, a basílica de V. Vicente. Almoço e regresso para visita a Segóvia.
Em Segóvia fomos recebidos por uma chuva miudinha, que
não impediu a progressão do grupo. O
monumental aqueduto desperta a admiração dos visitantes. Obra de romanos em
pedra seca que se mantem firme desafiando o tempo. Subindo em direcção à Praça
Maior deparamos com uma casa de bicos, com decoração exterior semelhante à da
Casa dos Bicos de Lisboa. Visita exterior à Catedral. Seguimos para o Alcazar
também para uma visita exterior, ou no interior para quem quis, rápida porque o
tempo não era muito e também havia quem quisesse visitar o interior da catedral,
estando já muito perto a hora do fecho para visitas.
E chegou o último dia. Pela manhã visita ao palácio
real de La Granja de Santo Ildefonso, mandado construir por Filipe V inspirado
no palácio de Versalhes e por isso também chamado de pequeno Versalhes. No
interior a flor de Lis está em todo o lado, marcando bem a presença dos
Bourbon. No exterior os jardins são um esplendor que as alterações do clima
nos permitiram apreciar porque, segundo a guia que nos conduziu na visita,
nesta altura do ano já tudo estaria gelado. Finda a visita voltámos a Segóvia
para almoçar com o apetite estimulado pela espectativa de meter o dente no
“Cochinillo Segoviano”, servido no restaurante “El Bernardino” especialista na
matéria, segundo voz corrente. Como entrada foi servido um guisado de feijocas com chouriço. Estava
tão saboroso que bem dispensava o cochinillo, mas o ritual tinha que se
cumprir. E veio o dito que foi colocado numa mesa no centro da sala para ser
trinchado, imagine-se, com um prato! Operação só possível perante a macieza do
bacorinho mal acabado de desmamar, se é que o chegou a ser. Depois, para concluir o ritual, o prato foi
atirado ao chão espalhando-se em cacos pela sala. Provado e aprovado eis o
veredito: o nosso é melhor.
Acabou-se a festa, regresso a casa onde chegámos pelas
dez da noite, do dia um de Novembro de 2022.
Madrid
El Escurial
Navacerrada
(Quarto de Santa Teresa de Jesus)
Sem comentários:
Enviar um comentário